A Dança Moderna surge no período da história da dança, o que vai separar o clássico do moderno não é simplesmente a técnica, mas, também, o pensamento que norteou sua elaboração.
Nos Estados Unidos e na Europa apareceram novos modos de dançar bastante diferentes da tradição clássica em relação aos espaços utilizados, concepção de dança e movimentos do corpo.
O embrião da dança moderna é tradicionalmente associado à estadunidense Isadora Duncan (1878-1927)
Mas na realidade ela nasce quase que simultaneamente em dois países: Estados Unidos, não somente com Isadora, mas também com Loïe Fuller (1862-1928) e Ruth St. Denis (1877-1968), e na Alemanha, com Rudolf Laban (1879-1958) e Mary Wigman (1886-1973).
Rudolf Laban
Mary Wigman
Duncan e Fuller fizeram sucesso principalmente na Europa. Ruth St Denis e seu companheiro Ted Shawn (1891-1972) criam uma escola de dança na qual se formaram os primeiros grandes mestres da dança moderna nos Estados Unidos.
Mary Wigman representa um movimento coreográfico expressionista que surgiu na Alemanha dos anos 1920.
Muitos modernos mantiveram as estruturas formais estabelecidas pelo balé clássico, porém alguns foram em direção a uma técnica de dança mais livre, ou seja, não seguindo uma determinada técnica e conquistando maior liberdade para a escolha dos movimentos. Eles estavam mais abertos às sugestões de um mundo em mudança e às descobertas da arte de seu tempo.
Os primeiros modernos. As três dançarinas estadunidenses – Duncan, Fuller e Ruth – nasceram em um país onde a dança clássica não tinha uma tradição como na Europa.
Isadora Duncan
Ruth St. Denis
A necessidade dos norte-americanos de afirmar sua própria identidade perante a Europa está nas danças de Duncan e St. Denis, que introduzem uma atmosfera de misticismo em suas práticas gestuais.
1880 – Löie Fuller (1862-1928) iniciou sua carreira ainda no século XIX, quando dançava em shows de revista nos Estados Unidos. Sua primeira coreografia foi um espetáculo solo, Serpentine Dance (1890), onde apareceu com efeitos de luzes e com grandes pedaços de seda esvoaçantes, que ela movimentava com bastões amarrados em seus braços.
Loïe Fuller
Descobriu o poder da ilusão cênica com projeções luminosas sobre suas vestimentas em movimento. Fez sucesso principalmente na Europa. Sua influência marcou a arte e a moda dessa época, anunciando a modernidade que brotava na dança.
1904 – Isadora Duncan foi à Rússia e provocou grande sensação, influenciando Mikhail Fokine (1880-1942) em uma nova forma de pensar o balé, como veremos mais adiante no tópico “Companhia Balés Russos”.
Usava túnicas soltas, inspiradas nas dos antigos gregos, vestimenta que Sallé tentou introduzir dois séculos antes. Dançava com os pés descalços, rejeitando as sapatilhas de ponta usadas no balé, símbolo sagrado da dança clássica.
Isadora é considerada uma revolucionária, com grande ousadia. Não dançava com músicas compostas para balé, mas com músicas que geralmente eram tocadas em concertos, o que a maioria dos baletômanos (amantes do balé) era incapaz de compreender/aceitar.
1890 – Ruth St. Denis (1877-1968) iniciou sua carreira com o balé Rhada, baseado em temas orientais. Suas danças revelavam influência da cultura dos países do Oriente e elementos sobre o divino e o sagrado, com iluminação e guarda-roupa minuciosamente elaborados.
Ruth casou-se com Ted Shawn (1891-1972), que compartilhou com ela a idéia de dança como religião.
Ted Shawn
1915 – Ruth e Ted fundaram uma companhia de dança, a Denishawn, onde se formaram muitos dos bailarinos modernos, como Martha Graham (1894-1991) e Doris Humphrey (1895-1958).
Doris Humphrey
Na Europa, suas idéias não foram bem-aceitas, pois seus espetáculos eram apresentados com coreografias que cultuavam os príncipes astecas e as deusas hindus, não afinando com as preferências da geração dessa época.
St. Denis ainda teve de enfrentar a concorrência dos “Balés Russos” de Diaghlev, que estavam fazendo muito sucesso nos Estados Unidos naquela época.
1927 – Martha Graham, discípula da escola Denishawn, afastou-se daquela escola para iniciar sua própria carreira, sendo considerada por historiadores a grande profetisa da dança moderna, pois conquistou um verdadeiro espaço coreográfico para essa modalidade de dança.
Martha Graham
Fundou a Martha Graham School of Contemporary Dance, onde criou e aperfeiçoou uma técnica que se baseia principalmente em contração e descontração do abdome, técnica de dança que se espalhou por muitos países, sendo utilizada, ainda, por muitos coreógrafos.
1928 – Doris Humphrey (1895-1958), companheira de escola de Graham, saiu da Denishawn School e fundou uma companhia de dança nos moldes do pensamento moderno.
Humphrey teorizou o equilíbrio e o desequilíbrio do corpo humano com quedas e recuperações. Sua arquitetura coreográfica, ou seja, a construção de suas coreografias, não era dramática ou narrativa. Ela dizia que a dança tem dois extremos: em um deles está o completo abandono à lei da gravidade; no outro, a busca do equilíbrio e estabilidade. O drama dos bailarinos está em lutar contra as forças da gravidade e contra a inércia, correndo sempre o risco de perder o equilíbrio.
1932 – O balé clássico se mescla com a dança expressionista nascente na obra do alemão Kurt Joos (1901-1979) A Mesa Verde, na qual pretendeu mostrar a hipocrisia das conferências de paz e os horrores da guerra. Nessa coreografia apresentou alguns trechos de pantomima, que procura refletir a inquietude da época. Essa obra venceu o concurso de coreografia em Paris, no Théätre de Champs Elysées.
1940 – Martha Graham coreografou a peça Letter to the World (Carta para o Mundo), baseada nos poemas de Emily Dickinson e na observação da diversidade cultural de seu país.
Kurt Joos
1944 – A coreografia de Graham Appalachian Spring (Primavera Apalache), com cenário de Isamu Noguchi e música de Aaron Copland, fez sucesso com o tema sobre os velhos pioneiros dos Estados Unidos.
1957 – Mary Wigman (1886-1973) produz, na escola de Berlim, A Sagração da Primavera. Intérprete de suas próprias coreografias, conseguiu um grande reconhecimento do público com sua violenta carga expressionista.
Apareceu como uma personagem perturbadora, tanto na Europa quanto nas Américas. Especialista em papéis fortes, detinha as qualidades essenciais de uma atriz de tragédia, desprezando toda e qualquer forma de candura.
“Ballets Russes” – Companhia Balés Russos
1909 – A companhia Balés Russos, criada e dirigida pelo empresário e mecenas Sergei Diaghilev (1872-1929), chocou os parisienses com suas cores e sons fortes e “selvagens”.
As novas coreografias de Mikhail Fokine, com cenários e guarda-roupa dos grandes pintores, fugiam do academicismo, incorporando passos da técnica clássica a temas folclóricos e apresentando personagens cheios de energia.
Essa companhia imortalizou Vaslav Nijinski (1890-1950) como grande bailarino,que se tornou o preferido do público parisiense.
1912 – Nijinski, encorajado por Diaghilev, criou seu primeiro balé, L’Aprésmidi d’un Faune (A Tarde de um Fauno), inspirado em um poema de Stéphane Mallarmé (1842-1898), com música de Claude Debussy (1862-1918) e cenografia de Leon Bakst.
Vaslav Nijinski
Essa obra foi o primeiro grande escândalo de Nijinski. Composta de movimentos retirados dos afrescos gregos e egípcios, seus personagens foram apresentados de perfil em movimentos sensuais para um público que, acostumado com ninfas e fadas, ficou desorientado.
1913 – Outra obra polêmica criada por Nijinski foi A Sagração da Primavera. A idéia é a representação de um ritual pagão em uma tribo pré-histórica, culminando com o sacrifício de uma virgem, que dança até morrer. Com música de Stravinski e com a intenção de provocar o mundo da música e da dança, músico e coreógrafo trabalharam o tema com um grupo de bailarinos, abandonando a idéia de corpo de baile e retirando dos movimentos qualquer intenção narrativa. Na coreografia não foram utilizados os códigos do balé clássico, mas propostos movimentos difíceis para os bailarinos, pois eles tinham treinamento nessa técnica.
A apresentação no Teatro da Ópera de Paris foi tumultuada, chocando o público acostumado com a forma de apresentação coreográfica do balé clássico.
1914 – Eclode a Primeira Guerra Mundial. Os Balés Russos não viajam mais pelo mundo, porém continuam a produzir novas coreografias.
1917 – É criada Parade, obra com cenários de Pablo Picasso (1881-1973), música de Erik Satie (1866-1925) e coreografia de Léonide Massine (1896-1979).
1929 – Diaghlev morre em Veneza e com ele o tempo glorioso e arrojado da companhia dos Balés Russos.
Parade
Wagner Alvarenga